Confira aqui o resumo do episódio. ALERTA DE SPOILERS:
A HBO entregou um episódio intenso e multifacetado em The Last of Us – Temporada 2, Episódio 4, intitulado “Day One”. Combinando tortura psicológica, cenas de ação sufocantes e diálogos carregados de emoção, o capítulo aprofunda os conflitos entre os grupos sobreviventes, enquanto desenvolve, em paralelo, a relação entre Ellie e Dina. O resultado é um episódio com ritmo oscilante, mas que não economiza em impacto.
A história começa com um flashback não anunciado, voltando 11 anos no tempo para mostrar o nascimento da Frente de Libertação de Washington (W.L.F.) e a ascensão de Isaac Dixon (Jeffrey Wright), um ex-soldado da FEDRA que vira líder de uma guerrilha brutal. A introdução é forte, marcante e original da série – não está nos jogos –, e já deixa claro: a guerra entre os Wolves e os Serafitas vai pegar fogo.
Essa abertura sangrenta serve como prenúncio da brutalidade que está por vir. Isaac, frio e calculista, lidera uma rebelião ao custo de explosões e execuções. Em poucos minutos, fica evidente que ele é peça-chave na escalada de violência que define a atual situação em Seattle.
Depois desse prólogo tenso, o episódio desacelera ao reencontrar Ellie (Bella Ramsey) e Dina (Isabela Merced). A dupla explora uma cidade em ruínas, tentando manter o bom humor enquanto lidam com traumas e incertezas. Há um momento tocante quando Ellie canta “Take On Me”, recriando uma cena emblemática de The Last of Us Part II. Dina se emociona, e o clima de romance entre as duas começa a tomar forma. A construção da intimidade é delicada, mas nem sempre escapa de certos clichês do gênero jovem-adulto.
Mais adiante, a série volta a focar em Isaac, agora em um restaurante abandonado, em uma das cenas mais pesadas da temporada até aqui. Ele tortura um prisioneiro Serafita com uma frigideira escaldante, tentando arrancar informações sobre um ataque iminente. O interrogatório, tenso e simbólico, explicita as semelhanças entre opressor e oprimido, e evoca discussões políticas profundas – inclusive com paralelos claros ao conflito Israel-Palestina. A crueldade de ambos os lados deixa no ar uma pergunta amarga: quem, afinal, está certo nessa guerra?
A parte final do episódio acelera. Ellie e Dina invadem um posto da W.L.F. e descobrem cadáveres de soldados pendurados no teto com a mensagem “Feel Her Love” escrita em sangue. Logo em seguida, precisam fugir tanto de Wolves quanto de infectados, numa sequência de ação claustrofóbica e frenética dentro de um metrô colapsado. A direção de Kate Herron (conhecida por Loki) brilha aqui: tensão pura, câmera precisa e um ritmo alucinante.
Mas não para por aí. A fuga termina com Ellie salvando Dina de um infectado — usando o próprio braço como isca. No esconderijo, a revelação: Ellie é imune. E Dina, por sua vez, revela que está grávida. A sequência que se segue tenta equilibrar o choque com um momento de afeto. As duas dormem juntas no teatro abandonado, alimentando uma esperança frágil em meio ao caos.
Apesar do esforço em retratar o lado humano da tragédia, alguns diálogos beiram o melodrama adolescente, como a troca sobre beijo com gosto de beef jerky (é, você leu certo). Ainda assim, a força do episódio está no contraste entre o afeto e a selvageria, no embate entre o que resta de humanidade e o que já se perdeu.
O episódio termina com um novo objetivo: encontrar Nora. As explosões ao longe e a movimentação nas comunicações da W.L.F. indicam que o conflito está prestes a escalar ainda mais. E, mesmo que a narrativa tenha seus tropeços, o universo de The Last of Us segue fiel à proposta: um mundo onde a violência é rotina, e o amor, um ato de resistência.
“Day One” pode não ser o episódio mais coeso da temporada, mas é um dos mais ousados. Ele arrisca em tom e estrutura para ampliar a complexidade emocional da série, preparando terreno para o que vem pela frente. No fim das contas, o recado está dado: não existe caminho fácil quando se tenta sobreviver — e amar — num mundo em ruínas.