Quando despontou em Hollywood com O Sexto Sentido (1999), o indiano M. Night Shyamalan logo foi comparado a outros diretores consagrados da indústria. Contudo, apesar de manter fãs fieis, aquela comparação a outros mestres do cinema hoje é mais resgatada como meme. Em Batem à Porta (2023), Shyamalan nos recorda o porque é um diretor que escreveu seu nome na história para além de comparações.
O long abre com uma sequência de créditos, com desenhos e escritos emulando páginas antigas. Por um lado, isso nos situa em uma genealogia dos filmes de suspense; desde os longas de conspiração e paranoia dos anos 70, até os anos 90 com os clássicos frequentadores da sessão Supercine. E assim Batem à Porta nos informa seu gênero.
Ao mesmo tempo, a abertura também é um breve respiro enquanto chegamos ao filme, ainda como visitantes curiosos. Isto porque, passado por esse bloco inicial, a trama já está em curso. Não há montagem de cenário ou lenta apresentação de personagens. Começou e vai.
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Enquanto captura um gafanhoto para sua coleção, a pequena e curiosa Wen (Kristen Cui) conhece o estranho Leonard (Dave Bautista). Depois de uma conversa confortável, o adulto informa à menina que precisa levar uma mensagem para seus pais, o casal formado por Andrew (Ben Aldridge) e Eric (Jonathan Groff).
Assustada, Wen corre para a cabana. Enquanto isso, Leonard se une à outras três emissários da mensagem (grupo que inclui Nikki Amuka-Bird, Abby Quinn e Rupert Grint). E assim está formado muito o que veremos durante o longa.
Parte importante da potência de Batem à Porta está nas atuações deste reduzido elenco. Esta primeira cena é um bom exemplo.
Olhos e corações atentos
Kristen Cui compõe uma Wen que de fato parece uma criança, e não uma atriz-mirim. Sua curiosidade displicente e a forma com que invade a fala de um adulto traz naturalidade para sua composição.
No contraponto está o Leonard de Dave Bautista, em grande atuação. O ator surge em tela como gigante gentil, mas desconjuntado. Apesar da fala serena, sua mão acolhedora aparece enorme em tela. O visual “arrumadinho” de camisa social e óculos não parece conter o enorme corpo tatuado de Bautista. Sua simples presença liga o nosso alerta de que algo está fora do lugar.
E em grande parte, Batem à Porta é sobre isto. Apesar de ter associado sua imagem plot twists, M. Night Shyamalan parece inverter esta marca. Aqui a jogada é o quanto desconfiamos do que ouvimos e vemos.
Nesta trilha, o diretor compõe um filme de suspense onde não existe um grande mistério a ser desvelado no final. Contudo, o longa se mantém tenso para o espectador de ponta a ponta.
M. Night Shyamalan se mostra um grande diretor, não só da técnica e twists, mas também da forma com que conduz a história, seus atores e sua audiência.
Em nuances e detalhes, o diretor nos leva para conhecer um adorável casal (Ben Aldridge e Jonathan Groff, em grandes atuações) e temer pelo futuro deles. Assim M. Night Shyamalan se posiciona como um dos grandes mestres do suspense.
Batem à Porta é indicado para maiores de 16 anos e já está disponível para assistir nos cinemas do Brasil em cópias dubladas e legendadas. Confira o trailer: