Lançado em 2008, no mesmo ano em que o Universo Cinematográfico da Marvel foi iniciado, catapultando os super-heróis na cultura pop, Spider-Man: Web of Shadows dividiu opiniões entre crítica e jogadores. Desenvolvido pela Shaba Games, auxiliado pela Treyarch e distribuído pela Activision, o jogo trouxe uma proposta ousada para os fãs do Homem-Aranha, com uma experiência única e mecânicas inovadoras, embora seu tom mais sombrio e violento tenha gerado controvérsias. Com o tempo, no entanto, o título conquistou inúmeros fãs, sendo lembrado como uma obra corajosa que se afastou das convenções do aracnídeo.
Embora a recepção inicial tenha sido mista, com algumas críticas focadas na gameplay e na narrativa, o tempo acabou sendo um grande aliado para o jogo. Com o passar dos anos, a obra conquistou um status de clássico cult, sendo reconhecido por sua criatividade, inovação e coragem ao tratar o Homem-Aranha de uma maneira bem diferente de outras adaptações da Marvel. A história, a jogabilidade e as mecânicas um tanto exóticas fizeram deste título uma obra memorável, especialmente por seus aspectos que até hoje são difíceis de encontrar em jogos modernos.
Um dos seus maiores trunfos é a mecânica de combate aéreo, com a implementação do “Web Strike”, que se tornou uma das maiores ferramentas do jogo. Esta mecânica não só oferecia um combate fluido, mas também ajudava a criar uma sensação de dinamismo única. Mas o que realmente destaca Spider-Man: Web of Shadows de outros títulos é sua abordagem mais sombria e violenta, contrastando com as representações mais suaves do Homem-Aranha nos quadrinhos.
Mecânicas e Gameplay
Uma das grandes inovações que Spider-Man: Web of Shadows trouxe foi sua mecânica de combate no ar. O título permitia ao jogador uma verdadeira sensação de liberdade, já que o Homem-Aranha podia se movimentar de maneira fluida entre os prédios de Nova York. A “Web Strike”, um movimento no qual o Aranha salta no ar e avança rapidamente em direção ao oponente para reduzir a distância entre ambos, se tornou a principal ferramenta para isso, permitindo ao jogador não apenas atravessar grandes distâncias rapidamente, mas também atacar e derrotar inimigos com uma velocidade impressionante.
A mecânica era incrivelmente satisfatória, porque além de ser uma ferramenta de combate eficaz, ela também funcionava como uma forma de travessia, algo que poucos jogos de super-heróis haviam explorado de maneira tão dinâmica até então. Esse tipo de fluidez entre combate e movimento era algo que poucos títulos da época conseguiam replicar de forma tão bem-sucedida, e é justamente isso que torna Web of Shadows tão marcante.
Um aspecto do combate de Web of Shadows que influenciou a Insomniac em Marvel’s Spider-Man é a ênfase em se manter no ar. O Homem-Aranha se torna muito mais eficaz e difícil de ser atingido enquanto está no ar, além de possuir diversas técnicas e combos que o ajudam a derrotar inimigos no chão. A principal diferença entre os dois jogos, nesse sentido, é que Web of Shadows oferece um moveset bem mais chamativo e versátil para o jogador explorar.
O jogo realmente destaca a versatilidade do Homem-Aranha em todos os espaços 3D, permitindo que ele lute não apenas no chão e no ar, mas também contra inimigos nas paredes. A ideia de combater adversários nas laterais de prédios é algo inédito para o Spidey nos videogames, especialmente com um nível tão elevado de complexidade. Assim como seus movimentos no chão e no ar, até mesmo suas batalhas nas paredes variam consideravelmente dependendo do traje que ele estiver usando no momento.
Outra grande mecânica é a possibilidade de mudar o traje do protagonista em tempo real, o que não só afeta a aparência do Homem-Aranha, mas também suas habilidades e estilo de combate. O jogo oferece uma escolha entre o traje clássico e o simbiótico. Essa mecânica é parte crucial da estratégia de combate, já que cada traje oferece diferentes vantagens, como ataques mais rápidos e fortes no modo simbiótico ou uma mobilidade superior com o traje clássico. A flexibilidade de alternar entre esses trajes durante as missões e combates adiciona uma camada extra de profundidade à gameplay, tornando-a ainda mais dinâmica para os jogadores.
História e abordagem sombria
Como mencionado, a obra se afastou da representação tradicional do Homem-Aranha, optando por um tom mais sombrio e até violento, algo que os fãs de longa data não estavam acostumados a ver nos jogos, filmes ou quadrinhos da Marvel. O enredo, que gira em torno de uma invasão simbiótica controlada por Venom e que ameaça dominar Nova York, coloca o herói em dilemas morais mais complexos e situações de grande risco. O próprio Homem-Aranha se vê diante de escolhas que desafiam seus princípios, algo mais comum em histórias dos anos 90, como nas edições mais extremas envolvendo os simbiontes
Um aspecto notável da história é a presença de outros icônicos personagens da Marvel, que se juntam ao Homem-Aranha como aliados ao longo da história. Personagens como Luke Cage, Cavaleiro da Lua, Gata Negra e até mesmo o Wolverine desempenham papéis importantes, oferecendo suporte em batalhas e enriquecendo a narrativa com suas habilidades e personalidades únicas. A interação com esses heróis e anti-heróis não só amplia a experiência de jogo, mas também faz o universo Marvel se sentir mais vivo e interconectado.
A violência e o tom agressivo de Web of Shadows fazem com que ele se pareça mais com uma história em quadrinhos da Heavy Metal ou com aquelas edições mais ousadas e viscerais que a Marvel publicou nas décadas passadas, especialmente no núcleo dos simbiontes, com personagens como Venom e Carnificina. O jogo apresenta um ar de desesperança que contrasta com a leveza e otimismo frequentemente associados ao Homem-Aranha. Essa foi uma escolha corajosa por parte dos desenvolvedores, que não hesitaram em quebrar as normas estabelecidas e entregar uma experiência que realmente desafia as convenções dos super-heróis.
No entanto, esse tipo de abordagem ainda gera controvérsia entre os fãs até os dias de hoje. Para muitos, o jogo se distanciava demais da imagem tradicional do herói, aquele “Amigão da Vizinhança” que combate o crime com um sorriso no rosto e sempre opta por uma solução mais leve e amigável. A transição para um tom mais sombrio, que incluía cenas de violência e escolhas morais complicadas, não foi bem recebida por uma parcela dos fãs que preferiam o Homem-Aranha mais “clássico”, focado em suas aventuras divertidas e descontraídas.
Essa polarização acabou criando um debate interessante: até que ponto o Homem-Aranha deve ser representado como um herói leve e acessível, e até onde ele pode explorar suas dimensões mais sombrias sem perder a essência do personagem? Web of Shadows desafiou essa linha, o que, por um lado, gerou discussões acaloradas entre os fãs de quadrinhos, mas por outro, deu ao jogo uma identidade única que permanece até hoje como um marco na história do Aranha.
Visão artística que jamais se repetirá
É difícil imaginar outro jogo do Homem-Aranha com a mesma ousadia e coragem de Web of Shadows. Enquanto os títulos mais recentes da franquia, como Marvel’s Spider-Man (2018) e Marvel’s Spider-Man: Miles Morales (2020), trazem uma experiência de mundo aberto imersiva e mecânicas de combate sofisticadas, nenhum deles ousou ir tão longe na exploração de um tom mais sombrio.
Pode-se dizer que, dada a tendência dos jogos modernos de buscar uma abordagem mais acessível e “limpa”, provavelmente nunca veremos outra obra do Homem-Aranha tão corajosa quanto esta. Embora os jogos da Sony sejam fantásticos, Web of Shadows permanece como um marco na história dos videogames do Aranha, uma obra que se recusou a seguir as regras e, por isso, se tornou um clássico cult.
Se você ainda não jogou Spider-Man: Web of Shadows, não perca a chance de explorar essa joia rara. Infelizmente, devido a questões de direitos autorais, o jogo não está mais disponível em lojas oficiais. Após a aquisição dos direitos do Homem-Aranha pela Sony, muitos títulos anteriores foram removidos das plataformas digitais, tornando este jogo um item raro, o que aumenta ainda mais a aura de culto em torno da obra.
