Os filmes do diretor Gareth Edwards costumam ser uma montanha-russa emocional. Embora eu tenha apreciado Godzilla (2011) e tenha achado Rogue One (2016) um filme repleto de emoções genuínas, ambos apresentaram desafios em sua estrutura de edição e desenvolvimento de personagens que impediram que eu desfrutasse totalmente de suas histórias.
Em 2023, nos deparamos com “Resistência” (The Creator), mais uma incursão do diretor no gênero da ficção científica. Dessa vez, ele mergulha em um enredo e personagens totalmente originais.
Além da direção, Gareth Edwards também é o responsável pelo roteiro de Resistência. Na história que se passa em um futuro distante, em meio a uma guerra entre a raça humana e as forças da inteligência artificial, Joshua (Que é interpretado por John David Washington), um ex-agente das forças especiais que sofre com uma perde recente, precisa se recompor e ir atrás de uma nova arma de inteligência artificial.
E tudo muda, quando Joshua percebe que essa arma na verdade é uma “criança“, forçando ele tomar novas decisões sobre o seu papel na guerra.
Em um roteiro repleto de ação, durante os intensos confrontos de uma grande guerra, com muitas explosões e tiroteios, o filme com mais de 130 minutos de duração encontra momentos de respiro para nos apresentar seus personagens de forma significativa.
Resistência mergulha profundamente no drama, utilizando os horrores da guerra para humanizar os personagens e tornar suas motivações mais compreensíveis. Embora em alguns momentos possa parecer clichê, previsível ou até um pouco simplista, estou genuinamente satisfeito por ter assistido a algo que realmente alcança sua proposta.
John David Washington é um ator talentoso e, neste papel, ele oferece uma interpretação emocionalmente rica que seu personagem exige. Sua química com a estreante Madeleine Yuna Voyles (Alphie) é tão convincente que qualquer pessoa com um coração ainda pulsando encontrará facilidade em se envolver com essa história.
Como qualquer outra boa fiação científica, além dos personagens e da trama principal que acompanhamos na tela, somos convidados a refletir sobre uma série de questões humanas e sociais. É evidente que esses temas já foram explorados em muitas outras produções do gênero ao longo do tempo. Resistência não busca necessariamente inovar, mas demonstra um esforço notável em contar uma história cativante.
Tudo o que já vimos sobre os conceitos de liberdade, vida e morte, paternidade e tudo mais se misturam para dar fôlego ao roteiro. E mesmo tendo ali algumas pequenas inconsistências, no geral, ainda é satisfatório e realmente engajado.
Retirado essa minha preocupação com uma possível repetição de erros em filmes passados retornarem em sua nova produção, o que restou aqui agora é um “upgrade” de tudo que já era bom antes. Então agora começa a mais pura rasgação de seda da minha parte. Vamos lá:
Gareth Edwards manja muito de estética, o pai é brabo, e junto com sua equipe de fotografia costuma nos dar takes memoráveis que eu realmente gosto de apreciar. E em Resistência ele não está de brincadeira.
Apesar de apresentar um cenário futurista à moda Cyberpunk, onde pessoas coexistem com máquinas humanoides e aprimoramentos corporais são comuns, o diretor opta, durante a maior parte do filme, por destacar uma quantidade significativa de cenários verdes.
Numerosas áreas montanhosas, florestas e planícies naturais estabelecem um contraste direto com a alta tecnologia dos robôs e armas presentes no cenário, criando uma sensação de vislumbre e harmonia entre esses opostos que não são tão exploradas em outros filmes.
Normalmente o que não é natural, serve para mostrar algo que não é bom. Porém no conceito aqui nesse filme, a tecnologia se adaptou e abraçou a natureza. E isso é sutil e muito bonito.
Para embalar toda essa produção sci-fi, mantendo a alta qualidade de tudo que até aqui foi proposto, o filme tem em sua trilha sonora mais um excelente trabalho do mestre Hans Zimmer. Que aqui talvez não tenha entregado algo tão memorável quanto alguns de seus outros clássicos, contudo, ainda emociona e ajuda a elevar nossos sentimentos ao assistir Resistência.
Conclusão: Vale a pena assistir Resistência?
Resistência não está livre de críticas, o filme para alguns pode parecer pesar um pouco no drama relativamente simples, e talvez a sua falta de ambição em tentar trazer novos questionamentos filosóficos para o gênero pode ser um problema para alguns mais entusiastas das obras de sci-fi.
Que não foi exatamente o meu caso. Consegui embarcar em toda a aventura que o diretor se propôs a contar. O filme é intenso com muitas sequências devastadoras de guerra, com ação bem filmada e personagens carismáticos que possuem propósitos e não são desperdiçados.
Sabendo disso, Resistência é mais do que recomendável para quem gosta do gênero. E torna-se até obrigatório para os fãs de Rogue One: Uma História Star Wars. Meus problemas com o filme de 2016 em determinados momentos me fez pensar que Resistência é quase um pedido de desculpas por tudo que deu de errado em seu filme anterior.
Definitivamente irei assistir Resistência diversas outras vezes, e sinto que esse filme ainda tem muito espaço para envelhecer como um bom vinho, tornando-se ainda melhor com o passar dos anos. Esse novo universo criado por Gareth Edwards é rico e interessante, e eu ficaria empolgado de poder conferir mais do que foi apresentado aqui e espero que haja planos para isso.