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O que achei de Sand Land, o jogo baseado na obra do mestre Akira Toriyama

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Algo curioso sobre Akira Toriyama e que todos já sabem, é que o renomado ilustrador tinha um fortíssimo amor aos jogos digitais, e que isso era expressado com diversas homenagens dentro de suas histórias. Além de claro, ter trabalhado diretamente com estúdios de jogos durante toda sua carreira, criando personagens e capas e mundos referenciados até os dias de hoje.

Sand Land é um projeto pessoal publicado por Toriyama em 2000 no Japão, e que apesar da obra não ser lembrada pelo autor com tanto carinho graças aos estresses na produção, nos dias de hoje a aventura está ganhando o reconhecimento que merece e tornando-se um cult graças a dois projetos recentes que são o anime e um jogo de RPG de ação que adapta a história original.

É válido mencionar o quanto o autor estava envolvido nessas novas adaptações antes de seu falecimento, que aconteceu em maio desse ano. A obra original têm aproximadamente 216 páginas e por mais que seja uma história muito divertida e prazerosa de se ler, nós sabemos que parte do final dela foi feito meio que corrido, segundo o próprio artista. Sabendo disso, Toriyama aproveita as novas versões para expandir Sand Land, sendo possível dizer agora que temos em mãos mais do que uma simples adaptação. Tanto no jogo quanto no anime, podemos presenciar uma legitima continuação bolada pelo próprio mestre Toriyama.

Como é o jogo Sand Land?

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Indo direto ao ponto, Sand Land é um jogo de ação e aventura em mundo aberto que coloca os jogadores na pele do Príncipe dos Demônios, Beelzebub, acompanhado pelo astuto Thief e pelo corajoso Xerife Rao. Juntos, essa equipe inusitada embarca numa jornada em busca do mítico Lago Lendário, a única esperança para pôr fim à devastadora seca que assola o mundo.

O jogo oferece uma experiência dinâmica que combina lutas intensas de corpo a corpo com ação veicular. Os jogadores têm a liberdade de explorar Sand Land, descobrir e personalizar veículos e fazer muitas outras coisas referentes a gameplay que são muito utilizados em outros jogos de mundo aberto do mesmo gênero.

Você vai passar muitas horas explorando dungeons, se divertindo em mini games e fazendo upgrades em seus veículos e armas que são essenciais para se dar bem nos momentos de combate e velocidade no deserto.

É importante lembrar e deixar bastante claro que Sand Land é um JRPG, então esteja preparado para ler MUITO texto. Como de costume nos jogos desse gênero, os diálogos são parte essencial para que você aproveite o jogo como um todo. Então sim, há diversos momentos seguidos onde você vai apenas apertar um único botão para pular para a próxima frase.

Sei que pode parecer bobeira ter que explicar isso, mas acredito que essa ideia não tenha sido repassada nos trailers. Nas edições dos vídeos Sand Land parece ser totalmente um jogo de ação. Mas felizmente não é só isso.

A jogabilidade de Sand Land:

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Como já foi dito, Sand Land entrega 2 tipos de batalhas, corpo a corpo e os combates em veículos. E infelizmente aqui temos algumas escolhas que me fizeram não aproveitar a aventura como planejava. No momento de enfrentar os inimigos no braço, a sensação que fica é que o estúdio ILCA se perdeu dentro do projeto.

A quantidade de golpes são muito simples e limitados e logo se tornam respetivos. Ao longo da aventura você vai desbloqueando algumas novas habilidades que são úteis, mas que não são o suficiente para trazer variedade suficiente dentro da proposta do jogo.

Além disso, a IA dos inimigos não é muito refinada, e os padrões são muito tranquilos de serem aprendidos logo nos primeiros momentos de ação e que não exige nenhum tipo de estratégia diferenciada. É só sair batendo em todos como se fosse um hack n’ slash, porém sem os diversos combos que fazem os jogos desse estilo tão bons.

Em determinado momento da aventura, comecei a pensar que talvez teria sido melhor criar combates por turnos, assim como o próprio estúdio fez com o ótimo One Piece Odyssey.

Já o combate em veículos, eu também acredito que esteja afastado do ideal dentro do que já conhecemos no mercado. Dentro da minha experiência, senti que faltou um pouco de velocidade para deixar os embates mais emocionantes. Contudo, eu posso dizer que é divertido. Fica claro que esse foi o foco do estúdio, e aqui sim temos muitas opções de veículos, armas, itens e melhorias que você pode criar ou conquistar derrotando seus inimigos.

Basicamente o ciclo do jogo se resume a você coletar recursos que são deixados ao vencer batalhas, e que são usados para melhorar sua experiência com seus veículos e que fazem diferenças reais na hora do gameplay. Deixe suas armas primárias e secundárias mais letais, acelere mais rápido, fique mais leve ou mais resistente. E até mesmo faça alterações cosméticas, pintando toda a lataria das suas máquinas de diferentes cores e com muitas opções de adesivos.

Nessa parte do jogo, você pode considerar ele quase como um “Borderlands“, onde é importante explorar e vencer diversos inimigos em busca do melhor loot e melhores combinações de equipamentos. Apesar de perceber que poderia ser um pouco mais ágil e ter um pouco mais de estratégias, essas batalhas me prenderam por muitas horas.

O mundo aberto:

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O level design de Sand Land é relativamente simples, mas vai certo em uma estrutura funcional dentro do que conhecemos da obra original. Graças ao diversos veículos disponíveis desde os primeiros minutos de jogo, ir de um ponto ao outro no deserto é rápido e divertido. E você é sempre convidado por sinais no horizonte a querer explorar mais, seja para ativar as famosas torres que já são padrões nos mundos abertos de hoje em dia, ou invadir acampamentos em modo furtivo no maior estilo Snake em Metal Gear, para conseguir melhores equipamentos.

O jogador vai encontrar muitas dungeons, cavernas, resgates, missões secundárias e até mesmo modos muito divertidos de corrida ao estilo Mario Kart que complementam e impulsionam a história principal para frente.

É o básico e não apresenta exatamente nada de inovador? Sim. Porém, funciona dentro da sua proposta e ajudam a contextualizar ainda mais o universo criado para contar essa história.

No mapa Forest Land, que conhecemos após algumas boas horas de jogo, temos uma mudança de cenários muito impactante e bem vinda. Saímos dos visuais desérticos de Sand Land e vamos para uma floresta com bastante verde, além de novas criaturas. Funciona, mas preciso dizer que o design dos locais e como as coisas estão distribuídas Forest Land não é tão orgânico quanto o primeiro mapa. Ainda diverte e é interessante explorar, mas é perceptível que algumas coisas não estão tão claras quanto alguns padrões que foram estabelecidos em Sand Land.

Algo divertido que vale dizer, é que no primeiro mapa conhecemos a pequena cidade de Spino, que sofre com a falta de água e precisa de novos habitantes para se recompor. Parte da aventura é você encontrando com diferentes personagens durante algumas das missões secundárias, e os convidando para morarem em Spino. Durante esse processo, o jogo nos apresenta uma mecânica divertida onde é possível acompanhar o progresso da cidade.

Mais pessoas vão estar andando pela cidade, novas casas e lojas vão abrir para que você consiga comprar itens e recursos que são fundamentais para o seu engajamento dentro do jogo.

O grande acerto do retorno de Sand Land:

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O mangá Sand Land de Akira Toriyama, embora seja uma obra de ficção e aventura, oferece uma rica alegoria para análise política. Como já sabemos, a narrativa se desenrola em um mundo distópico onde a água, o recurso mais vital para a vida, tornou-se escassa e é controlada por um rei tirano. Este cenário ecoa as preocupações contemporâneas sobre a privatização de recursos naturais e a injustiça social que pode surgir quando esses recursos são monopolizados por poucos.

A crítica social é uma constante na obra de Toriyama, que frequentemente utiliza a comédia e a sátira para abordar questões sérias. Em Sand Land, ele explora a ideia de que os verdadeiros monstros podem não ser os demônios da história, mas sim os humanos que perpetuam a desigualdade e a ganância. A figura do rei ganancioso que controla a água reflete as críticas ao capitalismo desenfreado e à corrupção que podem surgir em sistemas onde o lucro é colocado acima das necessidades humanas básicas e que o único resultado disso é a destruição e morte.

O contraste entre o líder demônio, que apesar de sua posição e aparência e todo preconceito que sua forma desperta nos humanos, mostra compaixão e disposição para ajudar os outros. Ah sim, aquele bom e velho altruísmo típico de protagonistas de animes shounen que nos encantam por diversas gerações. Que bate de frente contra figuras humanas que são

Ainda dentro desse contexto, Sand Land também pega pesado em sua narrativa ao colocar em pauta os crimes de guerra como um dos principais pontos para mover toda a história.

Tudo o que falei nos últimos parágrafos sobre o que realmente é Sand Land, já está presente no mangá escrito lá em 2000, e é ótimo poder dizer que o jogo mantém toda essa mesma estrutura com muito respeito e fidelidade. Mas também há um grande mérito aqui por terem expandido ainda mais todos esses conceitos, dando ainda mais profundidade aos personagens e até mesmo melhorando alguns aspectos em relação ao mangá.

Além de algumas coisas que pareciam “forçadas”, como o uso da telepatia de Beelzebub que antes aparecia de um jeito muito aleatório, agora no game ele é apresentado antes em um momento diferente, para introduzir o poder de forma mais natural.

Outro grande acerto são muitas das histórias e personagens que conhecemos em missões secundárias, que contam mais sobre aquele universo e podem trazem trechos de muita reflexão com tudo o que está acontecendo naquele mundo. Não quero entrar muito em detalhes para não entregar spoilers, mas o jogo não se perde e vai sempre lembrar que pessoas estão com sede em Sand Land, acontecem sequestros, e as estradas estão cheias perigos.

E isso tudo é extremamente bem feito, com cenas e diálogos durante toda a jornada, que ajudam a intensificar os sentimentos dos protagonistas e dão ainda mais força para os jogadores sentirem uma real vontade de entrar na briga contra a tirania existente em Sand Land.

Dito tudo isso, podemos dizer com toda certeza que o jogo é a “versão definitiva” para quem quer conhecer e explorar a distopia de Sand Land em todos os níveis.

Raso em seu gameplay desperdiçando muitas das suas mecânicas, Sand Land ainda consegue ser divertido e entrega uma história leve e com a profundidade necessária para manter o jogador interessado em todos os subtextos presentes na narrativa que nos fazem refletir sobre os dias atuais. Transitando entre questões do capitalismo desenfreado, preconceitos, os horrores da guerra e tudo de ruim que isso pode trazer para uma sociedade.

Sand Land está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5 e Xbox Series X/S.

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