Imagine acordar numa manhã qualquer e descobrir que seu prédio foi completamente selado da noite para o dia. Nenhuma porta abre. Nenhuma janela se move. Sem sinal de celular, sem água, sem explicações. Esse é o ponto de partida de Brick, novo thriller de ficção científica que estreia na Netflix. A produção alemã dirigida por Philip Koch (Tribes of Europa) mistura drama, mistério e uma dose sufocante de paranoia ao explorar o que acontece quando um grupo de pessoas é forçado a sobreviver trancado num ambiente que, de repente, vira uma prisão inexplicável.
Estrelado por Matthias Schweighöfer e Ruby O. Fee, o filme promete uma narrativa densa, emocionalmente carregada e que aposta menos em sustos baratos e mais na tensão crescente e no desespero realista. Ao estilo de obras como O Poço, 10 Cloverfield Lane e até O Nevoeiro, Brick é uma experiência que mexe com os nervos e desafia o espectador a pensar: e se fosse comigo?

A trama gira em torno de Tim e Olivia, um casal em crise que, junto com os outros moradores do edifício, precisa enfrentar o isolamento repentino. Com as saídas bloqueadas por uma parede misteriosa feita de um material magnético desconhecido, a única certeza que resta é a de que ninguém vai sair dali tão cedo. Mas o pior talvez nem seja o que está lá fora — e sim quem está preso com você.
Enquanto tentam entender o que está acontecendo, os personagens passam a viver sob constante tensão. Os conflitos pessoais vêm à tona, os nervos se desgastam e, aos poucos, o grupo entra em colapso. A água acaba. A comida vira motivo de disputa. A confiança vira um luxo. E a pergunta mais urgente passa a ser: até onde você iria para sobreviver?
No centro dessa tempestade emocional estão Tim e Olivia. Ele, um homem prático e aparentemente calmo, tenta manter a ordem e encontrar uma saída racional para a situação. Ela, marcada pela dor de um aborto recente e prestes a deixar o marido antes do surgimento das paredes, é mais intuitiva, questionadora, e talvez a única capaz de ver além da superfície. O trauma do casal serve de pano de fundo para a tensão maior: como reconstruir uma relação — e a sanidade — em meio ao caos?
O elenco é um dos pontos altos da produção. Matthias Schweighöfer, que recentemente apareceu em Oppenheimer como Werner Heisenberg, entrega aqui uma performance introspectiva e potente. Ele já é conhecido do público da Netflix por Army of Thieves e Army of the Dead, e assume agora um papel mais sombrio e contido. Ruby O. Fee, sua parceira na vida real e também em outras produções, mostra versatilidade ao equilibrar fragilidade e força num papel cheio de nuances.
Outros destaques do elenco incluem:
- Frederick Lau, em um papel explosivo como o vizinho paranoico que instiga o conflito dentro do prédio.
- Sira-Anna Faal, jovem atriz que representa uma nova geração presa em um velho mundo.
- Alexander Beyer, que interpreta um morador mais velho, com um passado misterioso e um senso moral ambíguo.
- Salber Lee Williams, Murathan Muslu, Axel Werner e Josef Berousek, que completam o núcleo central com personagens que oscilam entre cooperação e colapso moral.
Apesar de algumas críticas divididas no lançamento, Brick já desponta como um dos thrillers mais populares da Netflix neste ano. A trama engenhosa, que se desenrola como um jogo de escape room, atrai tanto os fãs de mistério quanto os apaixonados por dramas emocionais. É um filme que não oferece respostas fáceis. Pelo contrário: quanto mais as peças se encaixam, mais perguntas surgem.
Para quem gosta de resolver enigmas, a experiência pode ser ainda mais imersiva se assistida no idioma original, o alemão. A dublagem em inglês perde parte da carga dramática e dos detalhes de interpretação. Com legendas, o espectador se conecta melhor aos diálogos e aos pequenos gestos que fazem diferença num filme em que o silêncio muitas vezes fala mais alto do que as palavras.
O design visual de Brick também merece destaque. O prédio onde a história se passa é retratado como um personagem vivo — um labirinto de corredores e portas seladas que muda de significado à medida que o tempo passa. A sensação de claustrofobia cresce em cada plano, em cada cena sufocante. Não é um lugar onde alguém escolheria estar. Mas, a essa altura, ninguém ali teve escolha.

Além da crítica à alienação urbana, o filme também propõe uma reflexão profunda sobre a natureza humana: como lidamos com o medo, com o desconhecido, com o outro? Quando os recursos acabam, quem decide quem vive e quem morre? E quando todos estão trancados juntos, existe alguma saída que não seja por dentro?
Produções internacionais como Brick mostram o investimento crescente da Netflix em narrativas europeias de qualidade. Assim como aconteceu com sucessos como 1899, Dark e Tribes of Europa, o streaming aposta novamente em criadores alemães para entregar conteúdo diferenciado e desafiador. E para quem achava que os thrillers já tinham esgotado suas fórmulas, Brick surge como uma proposta ousada e instigante.
Disponível a partir de 10 de julho de 2025, Brick terá estreia simultânea no mundo todo, com exclusividade para os assinantes da Netflix. Sem cinema. Sem atrasos por região. É sentar no sofá, apagar as luzes e embarcar num pesadelo de paredes fechadas, silêncios pesados e dilemas morais.
Se você procura um filme para discutir depois dos créditos, refletir sobre os limites do ser humano e ainda curtir uma tensão crescente que prende até o último segundo, coloque Brick na sua lista. Mas vá preparado: não é só a porta do apartamento que está trancada — o alívio, aqui, também está fora de alcance.
Assista ao trailer dublado: